Professor Orávio de Campos Soares. Pré Candidato a prefeito de Campos, fala ao nosso desacreditado e sensacionalista blog, sobre a possibilidade, se eleito, mudar os cantos gregorianos
impostos pelos poderosos do passado, para os tambores e batidas de pés no solo vermelho de nossa baixada.
Eparrê meu pai!
Que com a permissão de Santo Onofre, as bençãos de Iracema, e a proteção dos nossos orixás, quem ta solto que se amarre, os laços que te prendiam se soltaram. A doce luz que ti ilumine e que as águas do rio te lavem. que saia de ti todo mal feito e escondido sobre a pedra e por debaixo dela, nas matas e cachoeiras, teje livre para caminhar.
Seja bem vindo meu filho a nossa cadeira de pergunta.
Hum hum, oxi! seja luz.
O Sr recebeu um convite para ser prefeito
de Campos, nas próximas eleições. Como o Senhor espera contribuir para o
município?
Orávio
- O problema não está no que posso
contribuir. Isso eu tenho feito ao longo de minha vida sem ocupar cargos
políticos. No fundo há uma incompatibilidade entre o meu ser social e as
diferentes esferas do poder. Não me sentiria bem diante de um quadro no qual
não acredito. Governo ainda gera desconfiança na comunidade. Há a idéia de que
as pessoas entram no poder para levarem vantagens. E, depois, sou, ainda, do
tipo: “Se há governo sou contra”.
Militante e fundador do PDT no
município, o senhor foi um dos responsáveis na criação desse “Novos Artistas”do
cenário político na região. Como o senhor avalia a nossa política local?
Orávio
- Anthony era uma boa liderança e o
movimento, em termos políticos, foi a melhor coisa que aconteceu na cidade nos
últimos 20 anos. Até porque partiu do romantismo dos artistas de teatro. O
problema é que os objetivos, depois da derrota dos coronéis, passaram a ser
outros. A liderança construída em torno da ANFAI e da FAMAC acabou olhando
outros horizontes políticos. De prefeito Anthony quis o governo do Estado. Só
que escolheu mal os seus sucessores. Deveria ter escolhido Fernando Leite e
optou por Sérgio Mendes. Isso foi um desastre político e, a partir daí, velhos
companheiros de luta começaram a brigar entre si. Depois, outro engano. Anthony
entrega o poder nas mãos de Arnaldo Viana, um antigo prócer do PFL, gente de
direita. Hoje, do lugar onde me encontro, avalio que a classe média intelectual
que fez a revolução política em Campos, por incompetência e falta de visão do
futuro, voltou às mãos dos coronéis. Quer dizer: Anthony, no fundo, criou
sarnas para se coçar. Acredito que ele deve ter feito sua reflexão para avaliar
a própria culpa. Mas só quem vai poder julga-lo é a própria história. Quanto ao
PDT, por ser brizolista, ajudei a fundar o partido em Campos e, mesmo não
concordando com muitas coisas, nunca mudei de posição. Com isso homenageio Brizola,
uma das maiores capacidades políticas da história do Brasil.
O Senhor acredita na mudança desse
cenário político?
Orávio
- Penso que sim. Embora exista um
rebanho de tolos, como nos explica Chomsky ao falar sobre a recepção da
mensagem, podemos imaginar que muitas pessoas de bom gosto lêem as boas
reportagens interpretando o trabalho a ser feito na renovação de pensamentos.
O atual governo, prega uma linha de
conduta moral, baseada nos conceitos evangélicos, como o senhor analisa essa
postura?
Orávio
- Penso que não sou muito religioso,
não. A religião dos povos de descendências africana me interessa como objeto de
pesquisa. Mas, mesmo que não queira, os orixás sabem do trabalho que realizo em
função da preservação dessas culturas. Mas, quando estive na Bahia, ao visitar
o templo dos Filhos de Gandhi, fui recepcionado religiosamente pelos seus
babalorixás. Compreendi que ao nível transcendente as entidades me olham com
certo respeito e me admiram pelo que realizo.
Mas isso influi na cultura?
Orávio
- Acho um absurdo uma entidade como a
Zumbi dos Palmares ser comandada por grupos neopentecostais de natureza
fundamentalista. Fundada por inspiração de Vovó Teresa, a instituição, com 10
anos de existência, não tem muito que comemorar. Deveria, pelo menos cumprir os
estatutos, nos quais constam possibilidades de se restaurar as instâncias
políticas, sociais e culturais dos afrodescendentes, nos quais se inclui a
sagrada religiosidade dos orixás. Essa forma de colonialismo é insuportável na
contemporaneidade. A falta de visão das pessoas é muito pior, ainda. Os
pastores satanizam os signos da religiosidade africana e não acredito que
possam ter boas intenções ao ocupar um cargo politicamente estratégico. Mas a
culpa é do prefeito, o mesmo que, para marcar um ato político, mandar destruir
o índio da Estrada do Contorno. Infelizmente, não existe nenhum movimento de
preservação dessas culturas. Pelo menos assumindo posições. Muitos aplaudiram o
que escrevi, mas no silêncio indevassável de cada um.
Então Campos terá um prefeito jornalista como interlocutor de várias etnias
e culturas, isso facilita a comunicação com a população da periferia?
Orávio
- A formação do jornalista é muito boa.
Não só pelas questões conceituais sobre o verdadeiro papel da comunicação, mas,
também, pela possibilidade de fazer com que o povo se sinta responsável pela
transformação da sociedade e pela construção dos novos tempos que o futuro nos
reserva. Nosso olhar é crítico e não poderia ser diferente considerando que é
de nossa missão formar cidadãos que sejam muito mais críticos e comprometidos
com as coisas novas. Acho que vale a pena ser jornalista, sim. É uma grande
profissão. Tanto que, por pior que ela possa ser, nenhuma democracia pode
prescindir de tê-la como salvaguarda da liberdade de expressão. Até mesmo para
se expressar de uma forma ideologicamente incorreta. Pior é uma sociedade sem o
jornalismo...
E o partido?
Orávio - Isso
continuará no imaginário do blog Dihumor, que com exclusividade lança a minha
candidatura ao pleito de 2012, em breve os leitores iram saber.
Nem uma dica?
Orávio - ( risos) em breve, muito em breve...
Ps: o imaginárium coletivo, em seus devaneios noturnos, buscaram ajudas
nos relatos URGENTE e nas seções entre tambores, cantos e garapas, a data de
quarta-feira, 9 de abril de 2008.