segunda-feira, 1 de julho de 2013

Um Trigo no divã. A psicanalise e o pão de sal



Nasci semente de trigo assim como todos na minha família.
Nem todos lá em casa seguiram o mesmo caminho que eu. Uns foram levados para um laboratório para um tal de melhoramento da espécie. Sei é que ficaram brochas, só que na linguagem de nossa espécie se chama híbrido.
Híbrido e brocha é a mesma coisa, não tem como se reproduzir, então é brocha.
Eu fui levado por outros caminhos.
Dizem que um trigo tem várias personalidades. Não concordo. Na realidade, o tempo todo somos divididos, apertados, moídos, amassados, revirados.
Agora essa! Depois de esquartejado feito Jack, o estripador, me mandam para um psicólogo. TEM LÁ A PORRA DE UM CABIMENTO?
Mas tudo bem, sem problemas, doutor.
Ser trigo é uma merda. Imagina o senhor: logo que comecei minha carreira, crescia forte e vistoso, tinha a brisa que me levava e me trazia, podia sentir a chuva, o sol.
Bem verdade que vez em quando tinha um filho da puta que despejava uma merda sobre nossa cabeça, que fedia mais que merda ensacada. Diziam que era pra evitar que os bichos nos comessem. Tá. Antes ser comido por bicho.
Doutor, o senhor não faz ideia do que é ser trigo.
Eu e muitos outros grãozinhos fomos jogados em um tal de moinho, puta que pariu!
Doutor, pode xingar em consulta?
Sou meio desbocado mesmo, mas acho que a vida me deu esse direito.
Nesse moinho, tiraram minhas cascas, virei pó.
Doutor, tava tanto pó que se o Maradona chegasse perto, me cheirava todo. Ha! Ha! Ha! Ha!.
Sabe de uma coisa, Doutor, o senhor é um cara estranho, não ri, não fala porra nenhuma, só fica me olhando com essa cara de tarado com insônia...
Mas tudo bem, vou continuar minha saga.
Bom, depois de virar pó, colocaram uma turma (todos em pó) junto em um saco e fomos levados pra um lugar que não faço a menor ideia.
Naquela escuridão, não sei precisar de quanto tempo, ficamos descansando de tanto sofrimento.
Certo dia, achei que meu destino iria mudar, saí desse lugar escuro e fui pra um muito mais claro, arejado. Pensei: Ufa! Até que enfim.
Doutor, olha, puta que los parius! Nem imaginava o drama.
De repente, abriram o saco onde nos encontrávamos, uma sensação de liberdade me invadiu o peito, estava livre. KKKKKKKKKKKKKKKKKK (ri alto)
LIVRE, livre é o caralho!
Caí em um treco que não faço a menor ideia do que seja, redondo com umas pás de ferro dentro, logo depois, se juntaram a nós um povinho estranho, tal de fermento, mas nem dei a mínima, éramos em maioria.
Cara, de repente meu mundo começo a girar, hora tava de cabeça pra cima, hora de cabeça pra baixo
O senhor já se sentiu assim?
Cara, é muito doido, nem no hopy hary tive tamanha emoção, aí, quando achei que tudo iria ficar assim, veio um filho da puta e jogou água dentro daquela porra. Imagina, virou uma lama só, aí que o trem ficou feio.
Mas ai eu gritei: Segura gente! Vamos nos unir! Não deu outra, quanto mais eles nos virava mais duro nosso time ficava. Aí eu pensei: Vamo fudê essa porra toda.
Olha, deu certo. Desligaram aquela bosta, eu quase me rasgando, mas firme no propósito.
Bicho, quando achei que tinha acabado, lá vem um tal de cilindro e vlapt vlapt vlapt, o trem amassa tudo e vlapt vlapt vlapt.
Disse: Isso não acaba mais não? Desse jeito vou acabar passando mal.
Ufa! Veio um filho de santo e desligou aquela merda.
Fomos enrolados e jogados em uma mesa fria, feito essas de necrotério, de inox. Pois é .  O senhor deve conhecer bem, parece um morto não fala porra nenhuma.
Aí, quando tudo tinha acabado, começou a tortura novamente. Fomos divididos por uma faca enferrujada, sete pedaços iguais.
Porra, não vão parar de nos apertar e nos cortar, povo mais indeciso...
Pois é, depois de cortado, lá vem a porra do cilindro outra vez me amassar.
Aí, parece piada... Imagina que nos colocaram dentro de uma coisa que parecia uma piscina, fecharam a tampa e VAPT. Lá fui eu virar trinta pedaços. CARALHOS!
Já não aguentava mais se apertado, juntado e cortado.
Ou corta ou junta, caralho!
O Senhor acha que acabou? Porra nenhuma. Lá vem uma outra coisinha (essa fazia cosquinha) cada pedacinho dos trinta cortados era colocado nessa porrinha felpuda e vlululupt, ficávamos todos enroladinhos outra vez.
Bom depois desse corta, molha, enrola, aperta, corta, enrola, nos colocaram para descansar. Foi tanta porrada que depois de quatro horas fui inchando, inchando.
Aí pensei, graças a Deus acabou. Hã!????
Aí eu vi o que é o inferno. Fui pra um lugar quente da porra, mas era quente pra caralho mesmo. Não tô inventando. Tá certo que vez ou outra soprava um vaporzinho torturante, mas...
Cara fiquei moreninho, minha pele ficou que chegava a estalar.
Imagina o senhor que depois de tudo isso, teve um filho da puta que não satisfeito, resolveu me cortar no meio, me encheu de uma pasta melosa que o povo chama de margarina e me mordeu todinho.

Ah! Acabou a seção? Tudo bem, semana que vem eu volto pra contar quando meu primo virou bolo de fubá.